Ainda falta muito para a luz no fim do túnel
Opinião de Beatriz Maineti
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Como já dizia Adenor Leonardo Bacchi, “o sentimento que vocês têm, eu também tenho”. Saí do jogo entre Juventude e Corinthians estarrecida com o que foi apresentado pelos jogadores do meu time. Não houve tática, não houve técnico, não houve refino e, principalmente, não houve vontade de vencer a partida em momento algum.
A culpa pode ser colocada nos bolsos de várias pessoas. Pelo esquema, temos que falar sobre António Oliveira, que esbarrou na falta de entrosamento para tentar um jogo com apenas um volante e que, ao que tudo indicia, talvez tenha subestimado o adversário; individualmente, podemos falar sobre os gols perdidos de Yuri Alberto, sobre o espaço dado por Fagner na entrada da área, sobre a falta de cobertura de Hugo, sobre a lentidão do Romero, sobre as decisões do Wesley; podemos - e devemos! - falar sobre Cássio e sobre a falha recorrente na saída com os pés… Existem muitos pontos que podem ser discutidos.
Hoje, porém, eu não quero discutir tática; quero discutir a cabeça. Para a partida contra o Juventude, o Corinthians deixou em São Paulo a principal característica do time montado por António Oliveira que era a vontade. Em nenhum momento, qualquer que fosse, o time demonstrou vontade de vencer e se contentou com pouco. Quando o próprio pouco não veio, o time se perdeu nas quatro linhas e o que já estava ruim - aí, sim, taticamente - piorou ainda mais.
A falta de cabeça dos atletas origina derrotas; as derrotas resultam na falta de cabeça dos torcedores. É um ciclo vicioso que prende o Corinthians há, pelo menos, sete anos, desde a conquista do último título brasileiro. Nesses anos todos, trocamos de técnico, de jogadores e, em 2023, até de diretoria, mas seguimos presos no mesmo dia todos os dias.
Com um empate e uma derrota no Campeonato Brasileiro, a palavra “rebaixamento” começa a surgir como um grito no horizonte. “O Corinthians vai ser rebaixado, não tem como fugir”. “De 2024, com certeza, não passa”. E sim, é uma possibilidade, assim como não é. Até este momento, apenas seis pontos foram disputados e, embora o prognóstico seja ruim, o caminho ainda é longo.
Faltam 36 rodadas e o Corinthians vive, nesse momento, aquelas que, ao meu ver, são as mais importantes deste longo e traiçoeiro Campeonato Brasileiro: as dez primeiras. Em 2024, porém, vive esses jogos em meio a uma reformulação que por muito tempo teve cara de desmanche, aí passou a parecer um acerto e, em seguida, virou um erro completo. Daqui a pouco, voltará a parecer um desmanche, passará a ser acerto e, daqui a pouco, um erro fatal. Porque, adivinhem, é assim que uma reformulação se parece.
Mais do que os gritos de “rebaixado” na primeira rodada, outras palavras também foram muito repetidas nos últimos anos; “reformulação” talvez seja a principal delas. E, olha, como nós precisávamos dela. Só que o assunto tornou-se tabu, talvez porque ela nunca foi realmente explicada e o entendimento geral é de que o Corinthians trocaria técnico, diretoria e jogadores e se tornaria o Real Madrid da América do Sul. A verdade, porém, passa longe disso.
É um longo e árduo processo que passa, necessariamente, pela mudança da essência de um clube de futebol. A essência corinthiana, hoje, ainda é aquela da eterna idolatria, dos jogadores passivos e de troca insistente de treinadores. E, infelizmente, ela não se muda do dia para a noite; exige tempo.
Não “tempo de treino”, semanas e mais semanas de pré-temporada. Tempo de adaptação e de mudança, que vai além do que se treina com a bola no pé. Claro que passa por isso, não podemos ser ingênuos de dizer que o futebol não interfere nessa renovação, mas também não é o único fator.
Reformular exige tempo. Exige cuidado. E, sejamos honestos, exige o pé no freio e a diminuição da marcha. É uma descida íngreme que, se não for controlada, vai gerar um acidente grave. Reformular não significa que vai ganhar tudo no primeiro ano, mas também não dá para imaginar que o mundo vai acabar.
Querer as glórias da reformulação significa estar disposto a passar pelos mares de espinho que cercam esse processo. Já diria o sábio: todo mundo quer ir para o céu, mas ninguém quer morrer. Não é ter paciência, é ter calma; entender que o trabalho deu os primeiros passos com a troca de comissão técnica e com a chegada de novos jogadores, além da troca da diretoria. Mas ainda está bem longe da linha chegada.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.