Com pouco mais de três meses no cargo, Lucas Piccinato está cada vez mais habituado aos ares do Corinthians. O pouco tempo de casa, porém, não impediu o treinador de colocar suas ideias no "maior desafio" da sua carreira.

Em entrevista à Corinthians TV, nesta sexta-feira, o técnico, que completa 33 anos, abriu o jogo sobre o dia a dia, a convivência com as atletas, a torcida corinthiana e os grandes objetivos no clube. Piccinato, que passou pelo Centro Olímpico, São Paulo e Internacional, antes de chegar ao Parque São Jorge, se mostrou pronto para dar sequência à história vitoriosa das Brabas.

"Vivo muito o dia a dia. Quando cheguei no Centro Olímpico, trabalhar de maneira voluntária com jogadoras de base, era um desafio muito grande. Pouca vivência na área, caí meio de paraquedas no futebol feminino, era um desafio. Naturalmente, quando fui assumir o profissional do São Paulo, também foi um desafio montando um elenco do zero, no Inter também foi um desafio. Sempre olho o próximo como o maior, meu próximo passo, treino, situação, como mais complicados. Substituir um trabalho tão vencedor traz um grande desafio na cabeça de todos e na minha, mas passei por muita coisa na carreira e tenho capacidade para vivenciar esse desafio. É um clube gigantesco, uma torcida que apoia como nenhuma outra no futebol feminino. É o maior desafio da minha vida e estou com muita disposição para fazer aqui acontecer", disse.

O treinador, vale lembrar, já havia sentido a atmosfera da Fiel nos anos anteriores, mas estando do outro lado. Piccinato foi vice-campeão Paulista em duas oportunidades, à época dirigindo o São Paulo, ambas as campanhas terminadas na Neo Química Arena, além de outros enfrentamentos pelo caminho. Agora junto ao Corinthians, ele já teve a sensação de levantar uma taça em Itaquera, com a Supercopa Feminina, rasgando elogios à força e influência da torcida nos jogos.

"Vivenciei algumas vezes, as mais chamativas as duas vezes no Paulista, com casa cheia, à época quebrando recorde de público. Foram dois jogos marcantes em enfrentar algo incontrolável, a torcida não para de cantar, não tem sossego. No oposto disso, é difícil jogar contra e vivenciar isso. A final da Supercopa trouxe uma sensação boa de sentir que temos o 12º jogador, que empurra o tempo inteiro".

"É engraçado que nos piores momentos nossos, é o momento que a torcida mais joga para cima, empurra, e é impressionante vivenciar isso. Fico feliz de estar do lado bom agora, espero vivenciar mais isso durante a temporada. Quando estava contra era muito difícil, agora estando a favor a torcida não faz ideia do quanto ajuda, dá um gás a mais, o time tira um pouco mais de força, e foi um momento muito importante na minha carreira vivenciar isso", afirmou.

Responsabilidade e ambições

Piccinato chegou ao Corinthians após a principal temporada do clube, que conquistou Supercopa, Brasileiro, Libertadores e Paulista, em 2023. Além disso, o Timão se despediu de Arthur Elias, multicampeão pelo Corinthians e agora técnico da Seleção Brasileira. Ele destacou que, por estarem no topo, todas as outras equipes querem derrubar as atuais campeãs. Por isso, o foco tem sido ir além dos 100% em treinos e jogos.

"O Corinthians tem muito mérito de ter montado esse projeto para colher os frutos. O título da Supercopa traz um alívio inicial, tirar a pressão e desconfiança, traz confiança do dia a dia, mas é uma pequena dose porque temos muita coisa no ano, Brasileiro, Paulista, Libertadores. Todas estão trabalhando para derrubar o Corinthians, melhora projetos e estruturas. Temos que trabalhar 120% e continuar assim, isso tem sido um mantra quase que diário, dar o máximo para continuar conquistando o tempo todo. O grupo tem comprado", celebrou.

Após tantas conquistas do elenco, Lucas Piccinato fez questão de destacar a falta de egoísmo do grupo, que tem se preocupado apenas em ganhar mais títulos, segundo ele. A ajuda de jogadoras multicampeãs, casos de Gabi Zanotti e Tamires, vai além das quatro linhas, já que o treinador tem a companhia de Grazi, maior jogadora da história do Corinthians e que agora atua internamente no clube. Um privilégio para continuar motivado a vencer e escrever sua própria história.

"Me surpreendeu positivamente o quanto o grupo tem pouco ego, o clube quer ser campeão independente de qualquer coisa. Óbvio que vai ter ego, vai ter um pouco, mas todos vêm para trabalhar e fazer o seu melhor, o quanto esse grupo quer fazer o melhor. Óbvio que a estrutura é formidável, tem muitos méritos da Cris (Gambaré) e diretoria em buscar algo a mais, e isso faz a diferença para uma bola entrar. Dar confiança para a comissão técnica e jogadoras que as coisas estão andando no caminho certo e buscar vitórias e títulos. De início, me surpreendeu positivamente, e em apenas três meses, traz essa sensação de que as coisas são diferentes", comentou.

"Aqui no Corinthians temos atletas multivencedoras, que já passaram por quase tudo na carreira, é trabalhar e aprender no dia a dia. Zanotti, Tam (Tamires), Grazi que hoje está do nosso lado, entre outras que têm uma vivência. É uma via de mão-dupla, tento passar o que aprendo, não só para as mais novas, mas as mais velhas também. É estar sempre se reciclando, se renovando, pensando futebol quase o tempo inteiro para buscar os melhores resultados. As jogadoras sabem fazer isso e não se acomodam, estão buscando novas situações, conhecimento, e buscar títulos dentro de campo. É um privilégio trabalhar com elas", complementou.

Lucas Piccinato preferiu pensar alto quanto aos sonhos e desejos no Parque São Jorge. O treinador quer o pentacampeonato continental e o hexacampeonato brasileiro, em que o Timão já lidera nesta edição, além de mais um título Paulista.

"Meu sonho é ser campeão Brasileiro e da Libertadores. Tenho algumas conquistas, mas meu maior sonho é ser campeão dos principais torneios que disputamos. Bati duas vezes na trave contra o Corinthians, tenho o sonho de vencer o Paulista e acho que trabalhando bem temos tudo para conquistar esse ano", concluiu Piccinato.

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