Capa do álbum 'O dia em que a terra parou', lançado em 1977, ano da quebra do jejum de títulos paulista.

Eu tinha 17 anos de idade quando ouvi no rádio a notícia da morte do Raul, há exatos 33 anos.

Naquela época só conhecia dele as músicas que tocavam na grande mídia da época, como 'Gita', 'Metamorfose Ambulante', 'Ouro de Tolo', 'Eu nasci há dez mil anos atrás', 'Cowboy fora-da-lei', entre outras. Ainda não tinha maturidade suficiente para entender aquelas letras, achava apenas 'interessante', na verdade eu estava mais preocupado em saber se o Neto, recém chegado do Palmeiras, iria dar certo no Timão e se um dia o Corinthians seria campeão brasileiro.

Eu só aprendi a escutar Raul depois dos 25 anos. Ouvir 'Capim Guiné', 'Metrô linha 743', 'Tu és o MDC da minha vida', 'Não quero andar mais na contramão', 'As Minas do Rei Salomão' e outras canções que até ali me eram desconhecidas, pois aquela mesma grande mídia não queria (ou não podia) reproduzir, me fez descobrir que o cara não era apenas um 'maluco beleza'. Passei a entender porque Raul tem uma legião não só de fãs, mas de verdadeiros devotos. Não conhecia ninguém que não gostasse dele até o Ed Mota, mas deixo isso pra lá. Eu fico na categoria de 'grande admirador', se é que ela existe.

Lembro da Fiel cantando 'Pluct, Plact, Zum! O Coringão f*deu mais um! Boa viagem!', versão do refrão de 'Carimbador Maluco' nas vitórias contra times de fora de SP no Pacaembu. Até então as músicas do Raul e o Corinthians não tinham nenhuma ligação pra mim. Ele não era corintiano, acho que nem era torcedor de futebol, mas a sua música transcende a tudo isso.

Dias após a queda em 2007, alguém na minha rua (talvez corintiano) estava ouvindo bem alto 'Tente outra Vez', referência à superação: 'E não diga que a vitória está perdida... / Tenha fé em Deus, tenha fé na vida.../ Se é de batalhas que se vive a vida ... / Você será capaz de sacudir o mundo... / Nada acabou...'. Coincidência ou não, cinco anos após aquele desastre estávamos comemorando nossa primeira Libertadores e o bi Mundial no Japão.

'Raulzito', assim como meu ídolo no futebol, Sócrates (que também tinha, infelizmente, o vício do álcool), não foi o melhor e nem de longe o pior em sua área de atuação, mas foi, acima de tudo, original, talento diferenciado que dificilmente voltaremos a ver ou escutar.